Foto: iStock, Getty Images
Junho está sendo um mês marcado por protestos e movimentos em busca de um mundo melhor. Desde a morte do afro-americano George Floyd, em 25 de maio, protestos contra o racismo e a violência policial tem tomado as ruas das principais cidades do mundo. Também é o mês em que se comemora o orgulho LGBTQIA+, através de grandes mobilizações, que esse ano foi feita de uma forma diferente, remotamente, através das Lives e redes sociais, por conta do isolamento social causado pela pandemia do Coronavírus. Mas junho está sendo um mês importante para as mulheres, principalmente as do mundo da dança de salão.
Imagina você ir para um baile de dança com seus amigos para se divertir, espairecer e fazer algo que você adora. Um cavalheiro se aproxima e te convida para dançar e você, talvez nem querendo dançar naquele momento ou com aquela pessoa, aceita o convite, lembrando daquele recado que te deram na escola de dança que não é educado recusar uma dança. Ao aceitar o convite, você, enquanto dama, confia ao cavalheiro o seu corpo para que ele o conduza e ambos tenham momentos de diversão e lazer. Mas de repente o abraço começa a ficar apertado demais, a boca dele se aproximando de áreas do seu corpo que você não permitiu ou ele está falando coisas que você não quer ouvir. O que seria um momento de alegria acaba virando uma agonia e você começa a contar os segundos para essa dança acabar logo.
Por causa de situações como essa, ou até piores, que há poucas semanas foi criado, no aplicativo Instagram, um perfil chamado “Chega de Assédio na Dança” (@chegadeassedionadanca), conhecido também pelas siglas C.A.N.D., onde mulheres relatam casos de assédios que sofreram no mundo da dança de salão onde, obrigatoriamente, se dança em casal, abraçados, e são de onde partem a maioria dos assédios.
E o mais impressionante é que na maioria dos casos relatados os assédios partem dos professores ou “mestres”, que deveriam ser os primeiros a dar o exemplo e a coibir esse tipo de comportamento.
Os posts vão de casos de assédio moral como o uso de falas e termos extremamente machistas em salas de aula, a desqualificação de alunas e professoras assistentes, o não pagamento de cachês dos profissionais para as suas parceiras, alegando que elas estão tendo o privilégio de trabalhar com eles; até casos de assédio sexual que vão de ereções durante uma dança, tentativas de beijos sem consentimento nos bailes e até casos de estupro, como foi relatado por uma das vítimas.
O perfil posta os relatos preservando os nomes das vítimas, os nomes dos assediadores e os nomes das academias e escolas onde trabalham ou onde ocorreram os assédios. A única informação sobre os casos são as cidades e estados onde eles ocorreram.
Grandes nomes do cenário da dança de salão já se pronunciaram em apoia às vítimas e à favor do movimento. A professora Ana Paula Pereira (@pereiradanca) postou um vídeo apoiando a causa e criticando o fato que muitas pessoas só procuraram ela para saber se ela era administradora do perfil ou se ela sabia quem eram essas administradoras, mas ninguém a procurou com o intuito de ajudar as vítimas. Ela cita também que após declarar seu apoio foi contactada por pessoas “alertando” que ela poderia perder trabalhos por conta do seu posicionamento.
A professora Rachel Mesquita (@rachel_mesquitarj), famosa pelos seus trabalhos e projetos sociais de dança para criança, também postou um vídeo declarando o seu apoio ao movimento, parabenizando as criadoras do perfil. Ela disse que não se surpreendeu, mas enalteceu a coragem desse grupo de mulheres ao abordar o tema e ainda falou da necessidade de expor quem são esses profissionais para que todos saibam quem são eles, finalizando com o a frase “que vergonha”.
Outro grande nome que se posicionou foi o professor, empresário e jurado do programa "Dancing Brasil", Jaime Arôxa (@jaimearoxa). Na sua publicação ele fala da importância de um profundo respeito às mulheres no mundo da dança e fora dele e que irá solicitar a expulsão de todos os profissionais que forem declarados culpados e que trabalhem em escolas de dança que carregue o seu nome. Ele agradece à todas as mulheres dançarinas e pede perdão por esses homens que envergonham a classe e perdão também caso ele tenha agido em algum momento dessa forma.
O perfil "Chega de Assédio na Dança" (@chegadeassedionadanca), que tem atualmente mais de 14 mil seguidores, já tem publicado, até a data de publicação desse artigo, 53 casos de assédios em 12 estados mais o Distrito Federal, e oferece apoio jurídico e psicológico para as vítimas que procuram o perfil.
Foto: Chega de Assédio na Dança (reprodução Instagram)
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